Processo contínuo de transformação pessoal, a reforma íntima é parte essencial da vida do cristão, unindo oração, autoconhecimento e entrega a Deus
Por Teologia em Foco
Viver o Evangelho começa dentro de casa e dentro de nós. Os cristãos são chamados constantemente a testemunhar sua fé no mundo, uma parte silenciosa, mas essencial da vida com Deus, continua desafiando que é a reforma íntima. Diferente de ações exteriores, ela não acontece aos olhos dos outros. É onde o Espírito Santo opera com mais profundidade, moldando o caráter segundo o modelo de Cristo.
A ideia pode parecer abstrata para quem associa vida cristã apenas a comportamentos visíveis. No entanto, essa reforma não é opcional. Está no cerne do processo de santificação, pelo qual todo aquele que crê em Jesus é chamado a passar. E embora seja silenciosa, sua manifestação muda tudo.
“Quando eu faço uma caminhada espiritual com a realidade da ressurreição de Jesus, na realidade, eu faço uma caminhada do processo da salvação. Porque, no processo da salvação, eu me arrependi, eu fui justificado, e aí, na minha caminhada espiritual, é a minha caminhada de santificação”, explica o pastor Francisco Parisi da Igreja Batista Adonai, em Fortaleza (CE).
Mais que arrependimento
A reforma íntima não termina no momento do arrependimento. Ao contrário, começa ali. É na sequência da justificação, o ato gracioso de Deus em nos declarar justos pela fé em Cristo, que se inicia a santificação, essa jornada de amadurecimento espiritual em que o velho homem vai sendo progressivamente transformado, conforme explica o pastor.
Pastor Francisco Parisi, relaciona esse caminho com a celebração da Páscoa. “O que nós conhecemos como Semana Santa é um chamado para a nossa santificação, para a nossa reflexão de como nós temos caminhado com Deus, como nós temos seguido os passos de Jesus”, ensina.
Esse processo exige autoconhecimento e disposição para que áreas da vida até então ignoradas sejam tratadas. “Se ainda há alguma área da minha vida em que eu preciso aprender mais, é porque eu ainda não entreguei essa área da minha vida de forma completa e absoluta, para que Ele esteja transformando”, afirma.
Para muitos, a imagem da vida como uma casa é familiar. Mas o pastor Parisi a utiliza com precisão cirúrgica. “Eu gosto muito da ilustração que fala sobre a nossa vida como uma casa cheia de compartimentos. Jesus está à porta e bate, como Ele se expressa a uma das igrejas do Apocalipse. E Ele diz: ‘Se abrir a porta, eu entrarei, cearei contigo e tu comigo’.”, compartilha o pastor.
A metáfora evidencia um ponto sensível, permitir que Deus entre é só o primeiro passo. O desafio real é deixá-Lo circular pelos cômodos, “inclusive os que preferimos manter fechados”. Relacionamentos mal resolvidos, mágoas, vícios emocionais, padrões de pensamento destrutivos. “Muitas vezes, nós abrimos a porta do nosso coração, da nossa vida, para Jesus, mas não deixamos que Ele trabalhe todas as áreas da nossa vida”, pontua o pastor. Há respeito divino por essas escolhas. “Ele quer transformar a nossa vida. Mas Ele só trabalha nas áreas da nossa vida que nós permitimos”, diz o pastor.
Oração como ferramenta de reforma
Se a reforma íntima começa com a disposição de abrir as portas, ela se aprofunda na oração, esse encontro diário com o Deus que sonda e conhece o mais íntimo do ser. Não se trata de um ritual automático, mas de uma experiência viva e sincera.
“Quando eu me encontro com Deus a cada dia, em meu momento de oração, onde eu abro meu coração, onde eu confesso a Ele os meus pecados, onde eu falo das minhas limitações, das minhas dificuldades, Ele vem ao meu encontro, através do agir do Espírito Santo dEle, que habita em minha vida, e vai transformando cada uma dessas áreas”, diz pastor Parisi.
“Nessa rotina espiritual, o Espírito Santo age como reformador, não com martelo e pregos, mas com graça, confronto e cura. A mudança nem sempre é rápida, e às vezes é dolorosa, mas sempre gera frutos visíveis”, complementa.
Transformação progressiva, não instantânea
Ao contrário do que a cultura do imediatismo propõe, a reforma do interior não se resume a um “antes e depois” estético. É um processo de décadas. “Ao longo da minha vida – seja de 60, 70, 80, 100 anos – ao longo de todos esses anos, Deus sempre vai estar trabalhando mais profundo no meu ser. Pensamento, sentimentos, forma de ver, forma de agir, forma de se comportar, forma de falar”, descreve o pastor dizendo que essa transformação também não é meramente moral ou comportamental, ela reconfigura o ser por completo.
A jornada de santificação é marcada por pequenos milagres diários, não apenas no mundo visível, mas no terreno oculto da alma. E a reforma íntima é o testemunho mais fiel de que Cristo vive.
O processo é contínuo, pessoal e não deve ser romantizado. Implica confronto com quem se é de verdade, disposição para mudar e fé no Deus que trabalha com paciência em cada centímetro da alma humana.
“É nesse trabalho de transformação do homem carnal, do homem material, em um homem espiritual, através do novo nascimento, que eu vou percebendo esse Deus que ressuscitou, esse Deus que é vivo, esse Deus que se faz presente na minha caminhada, dia após dia”, conclui pastor Parisi.