Líder mulçumano propõe unificação entre a fé de cristãos, judeus e muçulmanos e reacende o debate sobre ecumenismo, escatologia e a singularidade do Evangelho de Cristo
Por Patrícia Esteves
Durante o último Ramadã deste ano – mês sagrado para os muçulmanos, marcado por reza, jejum, reflexão e filantropia – o imã Umer Ahmed Ilyasi, uma das principais autoridades islâmicas da Índia, lançou publicamente uma proposta ousada: unir cristãos, judeus e muçulmanos sob uma só fé, chamada de “Fé Abraâmica Única”.
A teoria, segundo ele, nasceu de um “chamado divino” e tem por objetivo fomentar a silêncio entre os adeptos das religiões abraâmicas. Com sede já estabelecida nos Emirados Árabes Unidos (o Abrahamic Faith Center, em Abu Dhabi), o projeto visa respeitar as tradições das três religiões, mas propõe uma novidade base generalidade de fé.
A iniciativa reacende discussões profundas e, por vezes, delicadas. Por fim, até que ponto é provável erigir pontes entre sistemas de crenças tão distintos sem comprometer a núcleo de cada um? E porquê o cristão evangélico deve discernir esses movimentos à luz das Escrituras?
Ecumenismo ou sincretismo?
Antes de julgar a proposta pela aspecto, é preciso nomear corretamente o que está em jogo. Para o teólogo Magno Paganelli, o ponto mediano do debate não está no diálogo inter-religioso em si, mas na confusão entre os conceitos de ecumenismo e de sincretismo.
Segundo ele, ecumenismo, do helênico oikoumene, se refere à convívio e cooperação na “vivenda” de Deus, ou seja, o planeta. “Há vários textos, principalmente no Novo Testamento, que recomendam atitudes ecumênicas”, explica. Jesus, por exemplo, orienta a saudar com silêncio todas as casas (Lucas 10:5–6), e Hebreus 12:14 exorta: “Segui a silêncio com todos”.
Já o sincretismo, alerta Paganelli, “é juntar fés diferentes e fazer um instruído só”, o que contraria diretamente o ensino bíblico. “Só há um Deus, só há um caminho — no caso aí, a exclusividade de Cristo”, destaca.
Mas para ele uma coisa é inalterável e inegociável. “A exclusividade de Cristo é um marco do evangélico que não pode e não será removido nunca. Ponto”, afirma.
Diferenças irreconciliáveis
Apesar da linguagem de união e fraternidade, as diferenças doutrinárias entre islamismo, judaísmo e cristianismo não são meramente culturais. Elas são teológicas e essenciais. “O islã diz que Jesus não é o fruto de Deus. O islã diz que a Trindade não existe. O islã diz que Jesus não é o salvador e que ele não morreu na cruz pagando o preço pelo perversão”, lembra o pastor e redactor Marcos Querido, que cursou “Estudos Avançados em Religiões e Culturas do Oriente Médio” no ‘Institute of Middle East Studies’ (Beirute, Líbano), e ainda estudou as origens do Alcorão na Universidade de Notre Dame (EUA). “Portanto, parece-me que são posições irreconciliáveis, se realmente quisermos ser fiéis aos ensinamentos bíblicos”, esclarece.
A tentativa de encontrar um ponto generalidade que sirva porquê base de fé para essas três religiões pode ser vista, segundo os pastores ouvidos, porquê um esforço diplomático ou filosófico — mas nunca teológico. “Quando se estuda os atributos dessa potestade do Islã, observa-se uma diferença radical em relação ao Cristo do Novo Testamento”, reforça Paganelli. Ele ressalta que, enquanto Alá salva por obras, o cristianismo afirma que a salvação é pela perdão (Efésios 2:8–9).

Escatologia sem ufania
A movimentação inter-religiosa também está sendo lida, por muitos cristãos, à luz das profecias bíblicas. A morte recente do papa Francisco contribuiu para teorias que tentam associar esses eventos à figura do anticristo e ao término dos tempos descrito no Apocalipse.
Mas o pastor Marcos Querido alerta para o risco de interpretações apressadas. “Admitir a teoria de que o anticristo unirá as religiões depende muito da posição escatológica. A termo ‘anticristo’ não aparece no livro de Apocalipse”, lembra.
Querido lembra que o próprio evangelizador João, há dois milénio anos, já dizia que “muitos se faziam anticristos” e que aquilo era sinal de que já era a última hora (1 João 2:18). Para ele, associar diretamente a proposta da Fé Abraâmica a um cumprimento literal das profecias pode ser mais uma frase de sensacionalismo religioso do que uma leitura bíblica equilibrada. “Não há urgência de estrebuchar o muçulmano e sua fé. O que precisamos fazer é explicar quem é Jesus e a salvação que ele nos trouxe”, orienta.
Entre a silêncio e a verdade
O libido de silêncio entre povos e religiões é legítimo e necessário, principalmente em um cenário global marcado por conflitos e intolerância. A convívio respeitosa é uma virtude cristã, porquê ensina 1 Pedro 3:15: devemos estar preparados para tutelar nossa fé com “mansidão e reverência”.
No entanto, a tentativa de produzir uma fé generalidade que relativize os pilares da ensinamento cristã representa um risco sutil. A mensagem mediano do Evangelho é declarada por Jesus, quando Ele afirma “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Essa verdade, ainda que contracultural, é inegociável, conforme reforçou Paganelli.
Entre abraçar o outro e diluir a fé, há uma traço tênue e, nela, o discrição bíblico é mais necessário do que nunca. Em um tempo de muitas vozes, que se amplificam com informações percorrendo o mundo na velocidade da internet, cabe ao cristão ouvir com atenção, mas permanecer firme naquilo que não pode ser negociado, que é a verdade que liberta (João 8:32).