O desafio de educar filhos que honrem os pais exige uma jornada de exemplo, consagração e discipulado, fundamentada na Palavra
Por Teologia em Foco
Criar filhos nunca foi tarefa simples. Mas em tempos de tantas vozes disputando a atenção das crianças e adolescentes muitos pais cristãos têm redescoberto um chamado antigo, o de formar filhos que honrem a Deus e também honrem seus pais. Honrar pai e mãe é um mandamento bíblico com implicações profundas para a vida familiar e espiritual.
A maternidade e a paternidade não se limitam a um projeto pessoal ou a uma realização afetiva. São, antes de tudo, bênçãos concedidas por Deus, como expressa o Salmo 127. “Feliz o homem que tem sua aljava cheia deles”, diz o salmista, ao comparar os filhos a flechas nas mãos de um guerreiro. Essa concepção resgata o entendimento de que os filhos não pertencem exclusivamente aos pais, mas são dádivas confiadas por Deus para uma missão de formação e entrega.
A história bíblica de Ana e Samuel é um retrato vívido desse entendimento. Como relembra o pastor Francisco Parisi, da Igreja Batista Adonai, em Fortaleza (CE), “Ana não podia ter filhos e suplicou ao Senhor a bênção de ter um filho homem. E Deus concedeu a Ana essa bênção”.
A narrativa, contada no livro de 1 Samuel, revela que o ato de gerar um filho começa, para os pais cristãos, na oração. O pedido pela vida de um filho não é visto como mero desejo, mas como um clamor que reconhece a soberania divina sobre a fertilidade e a vida.
A prática de orar antes mesmo da concepção não apenas reforça a dependência de Deus, mas inaugura o vínculo espiritual entre pais e filhos, nutrindo desde cedo a consciência de que a família é um espaço de aliança com o Criador.
Consagrar e ensinar
A jornada de Ana não terminou com o nascimento de Samuel. Após o menino desmamar, ela o levou ao templo e o consagrou ao serviço de Deus. “Quando Ana recebeu a bênção de gerar Samuel, ela retornou ao templo e dedicou o seu filho ao Senhor, entregando o seu filho ao Senhor”, destaca o pastor Parisi. “O gesto de Ana, narrado em 1 Samuel 1.28, revela a segunda dimensão fundamental da criação de filhos à luz da Bíblia: a consagração”.
Consagrar um filho, no contexto cristão, não é simplesmente um ato simbólico ou uma cerimônia pontual, mas um compromisso contínuo de apresentar a Deus aquela vida e cultivá-la para o Seu serviço. Como lembra o pastor, práticas de consagração existem em outras tradições religiosas, mas o diferencial da fé cristã está na entrega ao Deus vivo e pessoal, que acompanha e dirige a vida dos que a Ele são dedicados.
Consagrar também significa ensinar. O exemplo de Samuel, que “ficou e começou a servir ao Senhor sob a mentoria do sacerdote Eli” (1 Samuel 2.11), evidencia a importância de inserir as crianças em ambientes de discipulado e formação espiritual desde cedo.
O conhecido provérbio “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e mesmo quando for idoso, não se desviará dele” (Provérbios 22.6) não é uma garantia automática, mas uma orientação clara sobre a responsabilidade dos pais em apontar o caminho, e caminhar junto, conforme explica o pastor.
Exemplo que forma, disciplina que preserva
Ensinar não se resume a transmitir doutrinas ou frequentar atividades religiosas. O caráter dos filhos é moldado, antes de tudo, pela coerência entre o que os pais falam e vivem. “Muitos pais querem que seus filhos sejam protegidos, mas não dão exemplo de temor ao Senhor”, alerta Francisco Parisi. Ele relembra uma cena comum:
“A mãe que, não querendo receber uma pessoa que estava batendo na porta da sua casa, mandou o menino dizer para aquela pessoa que ela não estava”. Embora pareça inofensivo, esse tipo de atitude, segundo ele, ensina na prática a mentira, e mina a integridade que se deseja ver nos filhos.
Além deste exemplo, dado pelo pastor, a disciplina ocupa um papel decisivo. A disciplina amorosa, segundo a perspectiva bíblica, não é sinônimo de agressão ou violência, mas de correção orientada e explicada. “O castigo, quando é instruído sobre por que está sendo castigado, não é espancamento, é instrução”, explica Parisi.
Uma herança que permanece
Criar filhos para honrarem a Deus e aos pais é mais do que formar cidadãos éticos ou bem-comportados. É legar uma herança espiritual que transcende gerações e abençoa a sociedade.
“A família que deseja ver o bem dos seus filhos, ver os seus filhos com atitudes corretas, honrando ao Senhor e honrando os pais, deve ensiná-los o caminho que devem andar. Mas, para isso também, os pais devem se levantar como exemplos de temor e de adoradores ao Deus vivo”, resume.
Para o pastor, a criação de filhos à luz da Bíblia não se limita a técnicas parentais ou estratégias educacionais. Trata-se de um chamado a viver uma fé encarnada, em que a oração, a consagração, o ensino, o exemplo e a disciplina convergem para formar filhos que sejam, eles mesmos, testemunhas do amor e da graça de Deus no mundo.