É o que revela uma pesquisa coordenada por professores da Universidade Federal Fluminense. Cotidiano político gera desconfiança
Por teologia em foco
A democracia continua sendo um valor inegociável para a maioria dos brasileiros, mas a forma como ela se manifesta no cotidiano político do país está longe de agradar. É o que revela uma pesquisa coordenada por professores da Universidade Federal Fluminense (UFF), que ouviu cidadãos de todas as regiões do Brasil: 79% dizem acreditar na democracia, enquanto 71% declaram estar insatisfeitos com o modo como ela é exercida no país.
Para o cientista político João Gualberto, que conversou com a Revista Comunhão, os dados não devem ser lidos como contradição, mas como expressão de maturidade cívica.
“Essa pesquisa mostra uma vitalidade na relação brasileira com a democracia, que é uma vitalidade que não estava colocada em 2020”, considera Gualberto.
Segundo o levantamento, mesmo entre os eleitores mais críticos ao sistema político, a defesa da democracia como regime ideal permanece alta. A adesão atravessa crenças religiosas, classes sociais e regiões do país. Esse consenso, no entanto, convive com uma profunda frustração. Entre os principais motivos apontados pelos entrevistados estão a corrupção, a lentidão da Justiça, o descrédito no Congresso e a baixa participação popular nas decisões.
“A pesquisa mostra os brasileiros com mais de dois terços favoráveis à democracia, mas com resistências, com críticas ao que se passa. Ou seja, a principal conclusão que nos dá é de que os brasileiros querem democracia e, sim, querem mais democracia”, explicita João Gualberto.
A fé e o engajamento
Em um país majoritariamente cristão, o papel das igrejas também aparece como um ponto de apoio para o fortalecimento da democracia. O estudo mostra que muitos cidadãos ainda enxergam nas lideranças religiosas um canal de mediação com o poder público — e não raramente, um espaço onde podem se expressar politicamente.
Apesar do cenário de descrença nas práticas políticas, a pesquisa da UFF também identificou uma tendência à valorização do voto, da liberdade de expressão e da imprensa livre. “Não sei se tinham essa proposta, de fazer uma pesquisa muito ampla, para colocar debaixo dela, todo e qualquer espectro do pensamento, principalmente as inconformidades de alguém querer ser democrata, mas não aceitar o aborto ou o casamento gay”, observa o pastor presbiteriano José Ernesto Conti, do Ministério Água Viva (ES).